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sobre estados de alma e outras insignificâncias... :)
para evitar os últimos, os tropeções, há já vários anos que deixei de tomar decisões de ano novo, vulgo resoluções, desejos, ou declarações de intenções...ainda assim, tenho por hábito fazer um balanço, o mais exaustivo e independente possível (assim como se estivesse a ver outra vida qualquer e não a minha, sentada tranquilamente numa sala de cinema) e, regra geral, encontro coisas boas para celebrar.
este ano, à semelhança de 2012, foi um ano duro. um ano de decisões tomadas à força, um ano de separações ( e felizmente reencontros), um ano de aprendizagem a muitos níveis. foi o ano em que percebi que se quero algumas coisas na vida, é preciso não só desejar e lutar por elas. é preciso abrir espaço para que elas entrem e tenham onde ficar. foi em 2013 que aprendi que, por mais que se goste, e por isso mesmo se tente ajudar, às vezes a melhor ajuda é não fazer nada (eu já sabia isto, em teoria, agora já sei como se faz na prática) e que dói muito fazer força para manter os braços cruzadas enquanto vemos gente de quem gostamos degladiar-se com a vida.
aprendi que é preciso deixar ir tudo o que não interessa. amigos, família, tradições, hábitos, manias, objectos. não há espaço para tudo, é preciso optar e, por mais que as pessoas, as coisas e as memórias façam parte de nós, às vezes é preciso passar por uma ecdise, exactamente como a cobra, e ficar tão apertada dentro da própria pele que por si-mesma ela se rompa para possibilitar o crescimento.
crescer é também perceber que há gente que mantemos na nossa vida não porque nos faz bem, mas porque lá está, e deixar de ter essas pessoas no nosso espaço. e varrer sem hesitar o pó que deixaram a assinalar a presença, lavar o chão e sentir o prazer de um espaço livre, limpo. onde antes havia um peso inútil há agora milhares de possibilidades. até a de deixar o espaço vazio deixando circular o ar livremente.
talvez seja para isto que servem o outono e o inverno. para nos concentrarmos no dentro. dentro de casa. dentro de nós e, assim como os dias são mais curtos e frios, sermos curtos e frios nas escolhas do que se deve ir antes do ano findar. porque de nada vale querer mundos e fundos para qualquer ano novo se a casa (física e não só) estiver atulhada de coisas velhas, com, no meu caso, mais de quarenta nos. não há espaço para tanto, por mais arrumados que sejamos, todo o espaço é finito.
aprendi a amar. aprendi a perdoar e, aprendi a aceitar. a lamentar sem ter que obrigatoriamente interferir. a chorar só para mim, porque na verdade, não acredito que alguém perceba inteiramente a dor do outro. logo, apenas nos podem dar uma coisa: um ombro onde chorar. ainda assim, vamos estar a chorar sozinhos. ah! aprendi que não faz mal chorar. e que se pode maldizer a vida. não se pode é ficar por aí...é preciso também agradecer à vida. as benções e as lições. e tratar de pôr mãos-à-obra!
descobri que a minha importância, no meio de tudo isto é relativa. mas que a partir do momento em que passei a ser importante para mim, a minha importância para os outros cresceu. ok, sim, podem dizer à vontade: eu já sabia isto tudo! claro! claro que sabia! já tinha lido, era até capaz de já ter aconselhado alguém a cuidar-se mais, valorizar-se mais, querer-se mais....mas daí a por a coisa em prática...vai uma vida! anos de uma vida! e não é de um dia par ao outro que se deixa de estar focado em ajudar o outro e se percebe que primeiro, estou eu. que se quero ajudar alguém, tenho que estar viva e inteira e que, se para ajudar alguém a minha integridade for posta em causa, não estou a ajudar a pessoa certa...
aprendi também que empurrar com a barriga não é remédio. da situação mais corriqueira à mais delicada. da vizinha chatinha que molha as escadas todos os dias de manhã cedo (raios, a partam! afinal as empregadas do condomínio lavam as escadas, se não ficam bem, mais vale falar com elas do que ter esta trabalheira todos os dias) à ex do ex que não me sai da frente. ignorar, fingir que não importa, que a senhora até lava as escadas e é bom para todos, procurar ver o lado do outro e desculpar comportamentos que nos incomodam, por minimamente que seja, é má politica. nada como bater um dia à porta da vizinha e pedir-lhe que por favor, lave as escadas meia hora mais tarde: assim entro e saio com o cão e volto a sair com o filho e não fico com sentimentos de culpa por andar pisar o chão acabado de lavar. a vizinha não se importa, sorri. e passa a esperar que eu saia para lavar as escadas. foi fácil. o resto também foi.
aprendi que por vezes, a teimosia compensa. e por vezes nem tanto assim. descobri que não estou disposta a vender o que sei e o que faço de melhor a qualquer preço. que o meu saber vale muito e que sou eu e eu apenas quem decide qual é o preço mas, descobri que em vez de querer à força que valorizem o que tenho para dar, talvez seja mais fácil ir ao encontro de quem valoriza...se é que me faço entender. como no amor, em vez de insistir em querer que alguém tenha a capacidade de me ver por inteiro ( e às vezes até tem) talvez seja mais fácil acreditar que há quem tenha essa capacidade sempre e a perca por vezes para rapidamente a reencontrar...
descobri que a vida se faz num equilibrio delicado entre ter o que se gosta e gostar do que se tem. que não gostar do que se tem não serve, que para isso mais vale viver com o desejo (sonho) do que se gostaria de ter. descobri que levar os sonhos na mão, bem fechados, pode sufocá-los. é preciso guardá-los no bolso, sempre presentes, mas manter as mãos livres para os construir, a alma livre para os perseguir, um coração aberto e a mente sempre curiosa e inquieta. aprendi que ser feliz é nunca deixar de acreditar!
aprendi a gratidão e o poder imenso de se valorizar tudo quanto se adquiriu. aprendi a mudar de registo, quando o disco já deu todas as voltas e a agulha se limita a fazer um ruído estranho depois de acabada a música...percebi que a paz também se constrói na ausência, no silêncio, no afastar. e que a alegria é um estado de espírito permanente, pontilhado de tristezas cintilantes aqui e ali, e não o contrário. e, acima de tudo, chego ao final de 2013 com a certeza de que tenho em mim e comigo tudo quanto é preciso ter para aceitar e superar os desafios de 2014, e, hopefully, viver a sorrir 24 horas de cada vez, semana a semana, mês a mês, até voltar a fazer mais um balanço, mais uma vez...
assim, à laia de resumo de 2013, fica uma ideia que já tinha publicado antes.
it did. I'm free.
ordem não é arrumação, como virtude não é aparência
oração não são palavras, como amor não é tacto,
reforma não é envernizamento, como estudo não é leitura,
caridade nãoé só "dar", como humildade não é abaixar-se
bondade não é mansidão que se omite, como alegria não é riso,
felicidade não é ócio, como dor não é choro.
foi assim que começou o meu dia, abrindo um livro ao acaso. tudo isto faz imenso sentido! assim como faz sentido, no seguimento de uma conversa que tive este fim-de-semana, que as mudanças sejam lentas e por vezes nem aconteçam. porque, para mudar, é preciso que algo muito mas muito forte nos impulsione e são, geralmente as coisas menos boas que conseguem ter essa força. porque mudar, mudar de atitude, pegar nas rédeas das coisas, custa. requer esforço e uma capacidade quase infinita de cair e levantar, falhar e recomeçar. todos os hábitos podem ser alterados, mas consolidar um hábito, requer tempo e muita força de vontade. e, para além de reconhecer os sinais, fazer-lhes caso.
estou cansada, este foi mais um ano de grandes desafios, de desgaste, de mudanças a vários níveis. se tivesse que usar uma única palavra para descrever este ano, escolheria crescimento: cresci, cresceu a minha noção de algumas coisas, cresceu a minha vontade de dar a volta à vida, cresceu a minha capacidade de ouvir, a minha vontade de conseguir. tudo muito frágil ainda, em crescimento ainda, mas sempre comigo, um crescimento lento mas que se vai consolidando.
este fim-de-semana também, tive oportunidade de perceber que, de facto, às vezes achamos que queremos muito algumas coisas. então, a vida coloca à nossa frente essas coisas. com um twist. no meio de tudo aquilo que achamos querer, como algo muito importante, ou, para chegar a tudo isso, há um obstáculo a transpor. perante tudo o que está do outro lado, ponderamos. mas, valores mais altos se levantam, que são os nossos, e não somos capazes de abdicar de alguns deles, ou de um sequer, para chegar ao tão almejado conjunto de coisas. e por vezes, esta barreira, pode até parecer fútil, podemos até, por momentos, considerar que deitar a perder um conjunto tão significativo de coisas importantes para nós por um pormenor é algo próximo da idiotice...mas, assim aprendemos mais um pouco sobre quem somos. e não há mal em querer-se tudo. ou em perceber que afinal há coisas mais importantes do que aquelas que achamos querer tanto...e aprende-se mais um pouco. e aceita-se que não se é perfeita.
e aceitar é mais um passo para o amor incondicional de mim-mesma. e descobri também que afinal até sei ler os sinais. e que sei descartar sem ficar com culpas o que não me serve. e que, ignorar consistentemente uma questão, não é tomar uma atitude. tomar uma atitude é praticar uma acção. ignorar, faz com que a coisa nos volte várias vezes ao caminho. lidar com é arrumar as coisas, arrumar a casa, destralhar a vida. porque cada coisa a menos que pesa, dá espaço de manobra para pegar noutra(s) com menos esforço.
não, não é fácil. nem sempre. mas vale a pena. não, não é rápido, mas faz ganhar tempo. não, não é indolor, mas torna-nos imunes... e sim, a melhor forma de não ter problemas, é lidar com eles e arrumá-los, focados não nos problemas, mas nas possíveis soluções! e não, não se sabe, mas aprende-se! e ao aprender...crescemos em todos os sentidos! e sim...às vezes é preciso:
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